Quando você tem 18 anos, está sempre nas baladas, inimigo do fim e bom de papo, as conexões acontecem naturalmente, assim como um gosto não só pelas pistas, mas, também, pelo backstage. Mesmo sem entender que todo aquele networking já era um reflexo da sua habilidade para produção de eventos, o brasileiro Renato Porto deu início ao primeiro passo que mudaria a sua vida para sempre.
Como bom sagitariano, a vontade de explorar o mundo bateu forte e, ainda no final da adolescência, decidiu embarcar para Londres, onde mora há 20 anos. “Tudo começou em um jogo de sinuca, em um dia de semana com dois dos meus melhores amigos, Victor Rabelo e Wesley (Zim). Comentamos algo assim: ‘ah, vamos embora daqui para morar em outro país? Vamos para os Estados Unidos?’. Eu disse não, precisamos de visto e demora, vamos para algum lugar imediato. Foi, então, que eu mencionei Londres, onde tínhamos uma chance bem maior do que os demais países na época. Nem passaporte tínhamos [rs]”, conta.
Já no outro dia foram a uma agência, compraram a passagem e 12 dias depois estavam na Europa. “Vim parar em Londres por alguns motivos diferentes, porém, o principal era que desde garoto eu já sentia que o Brasil era muito pequeno pra mim. Eu já tinha essa vontade de ir pra fora do país desde muito pequeno, tipo 11,12 anos de idade. Eu sempre tive a cabeça aberta para as coisas, do tipo que cada um faz o que quiser da vida e ninguém tem que se importar com isso, nunca gostei de fofoca e obviamente eu sabia que as pessoas da Europa eram bem mais discretas”, explica.
No início, Renato começou a trabalhar como motoboy, entregando comida. Sem negar as raízes de um bom baladeiro, trabalhava de dia e nas noites que tinha folga, ia para as festas. “Comecei a fazer muitos contatos. Então, acredito que foi se tornando uma coisa natural da minha pessoa ir conhecendo lugares, fazendo amizade fácil, até que um dia eu resolvi dar um passo à frente e usar essas minhas conexões e conhecimento na cidade para algo lucrativo. Foi aí que a brincadeira se tornou verdade, com a primeira edição de um evento”.
Foram sete anos até esse dia chegar. E o evento oficial foi o seu aniversário. Foram 200 pessoas em um clube de um amigo no centro de Londres. “Cheguei nele e disse: ‘eu quero fazer o meu aniversário aqui e vou cobrar £5 de cada convidado para entrar"'.
O amigo alertou que o clube não cobrava a entrada e Renato combinou que uma pessoa ficaria na porta cobrando as pessoas, o dono do clube ficaria com bar e ele com o dinheiro da portaria. “Ele topou!”.
A festa aconteceu no dia 18 de dezembro de 2010, com o tema ‘black and white’. Foram contratados dançarinos, DJs e o próprio Renato tocou no evento, com seu projeto de tech house que ali começava. Resumo da noite: sold out! “Eu já tinha tesão na organização de eventos, é algo inexplicável, porque por mais que hoje as labels estejam estabilizadas fazendo eventos gigantes, eu sempre fiz por amor e nunca pelo dinheiro”, afirma.
Um ano depois Renato estava trabalhando em parceria com a Space Ibiza como representante de marca, Café Olé, a qual franqueava o nome da festa e levava para Londres. Depois de contrato encerrado, assinou outro contrato com com o grupo Pacha, onde produzia a famosa festa européia Hed Kandi até que o consagrado DJ Alan K sugeriu que Renato iniciasse a sua própria label. “Ele disse ‘Renato, você está vendo todo mundo desse lugar lotado aqui? Todas essas pessoas não vêm aqui por causa do nome Hed Kandi Pacha e etc, elas vêm por causa de VOCÊ’. Aquilo foi o maior tapa na cara que eu já levei na vida, porque naquele momento eu acordei e sai da minha bolha”.
Foto: divulgação
Ao invés de pagar pela utilização das marcas, Renato começou a investir em produção, marketing e DJs, e criou o seu próprio selo, Chique, uma label de eventos temáticos de música eletrônica, com a primeira edição em 21 de dezembro de 2013.
Alan K assumiu a parte burocrática, enquanto o brasileiro ficou responsável pelo lado artístico. O primeiro evento foi em um rooftop, no centro de de Londres Tottenham court road, atraindo os olhares de patrocinadores como Champagne Taittinger, Dom Pérignom e Grey Goose. “O nome da Label é Chique, então, obviamente, precisávamos representar a marca trazendo eventos totalmente diferentes em lugares fantásticos.Toda a parte artística como dançarinas, anões servindo canapés, mulheres com cobras outras cuspindo fogo ajudou a impulsionar o sucesso da marca”.