Nascido em 2022 no Rio de Janeiro, o coletivo Neblina traz seu foco em Techno e Trance, sonoridades menos em voga na cidade, de forma geral. Com experiência prévia com outros estilos musicais, os fundadores decidiram criar um novo projeto, focado em sons mais pesados e menos comercializados.
Com seus eventos, o coletivo cria espaços para que o público se conecte com sonoridades menos comuns na cena carioca, consolidando cada vez mais uma comunidade apreciadora desses estilos. Desde sua primeira edição de festa, o coletivo busca a mescla de artistas locais com grandes nomes da cena global em seus lineups, fomentando o cenário carioca e criando a oportunidade de seu público conhecer referências internacionais. Nomes como Amanda Mussi e Chris Liberator já passaram pelos palcos do Neblina.
Tivemos a oportunidade de conversar com Lorio e Myla, fundadores do Neblina. Confira:
RTH: CONTE UM POUCO COMO COMEÇOU O COLETIVO.
Neblina: A ideia de fazer o Neblina surgiu quando ainda estávamos no Clubinho, que trazia tanto o lado mais comercial quanto sons mais underground. Mas com o tempo, o pessoal começou a focar mais no Tech-House e sons mais comerciais, enquanto nosso foco continuou nos sons menos comerciais. Então nos juntamos com mais alguns amigos, que também têm esse interesse e começamos a idealizar o Neblina.
No Rio de Janeiro, não temos tantas festas focadas em sonoridades mais pesadas. Sentimos a falta de termos um espaço para explorar nosso som, então, o Neblina surgiu com a ideia de fazermos uma festa mensal em um clube em Botafogo. Acabamos fazendo só uma edição no clube, mas bombou e começamos a já pensar em fazermos festas independentes (fora de clubes).
Fizemos a primeira festa independente em abril de 2022. Alugamos um galpão, montamos toda a estrutura e trouxemos a Amanda Mussi no line. Na segunda edição tivemos o Chris Liberator. Depois também fizemos mais algumas edições em clubes.
Por sermos um role totalmente independente, estamos construindo tudo do zero. Nosso público, nossa marca e nossas parcerias. Queremos sempre entregar uma experiência de ponta, desde o soundsystem até a iluminação.
RTH: O QUE MOTIVOU A CRIAÇÃO DO COLETIVO?
Neblina: Hoje, no Rio de Janeiro, não temos uma festa focada em Techno (e todas as suas vertentes), que realmente faça um investimento na estrutura. Então a motivação foi essa, não termos festas que sentimos grande interesse. Nos nossos eventos, gostamos de investir em um bom sistema de som, na iluminação etc. Ficamos carentes de um evento que a gente gostasse.
Além disso, gostamos muito de tocar. Junto com isso, temos o sonho de lançarmos nossa label, focada em Techno e Trance. Então a ideia é criar essa plataforma, um ecossistema, que traga vários produtos musicais que ressonem com a gente.
RTH: QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS DESAFIOS NA EXECUÇÃO DO PROJETO?
Neblina: Para montar uma festa, de estrutura (soundsystem, iluminação etc.), você normalmente tem um custo fixo. Aí você também separa um tanto para pagar cachê. No final das contas, cobrando um ingresso na faixa de R$50,00 ou R$60,00, que já não é tão barato, você precisa ter pelo menos umas 400 pessoas pagantes no seu evento, para não tomar prejuízo. Então, o grande desafio é manter a qualidade da entrega sabendo que você vai assumir um prejuízo. O principal desafio, no início, é o dinheiro.
Se o dinheiro fosse infinito, nós faríamos eventos uma vez a cada dois meses, o que impulsionaria o crescimento orgânico da marca. É aquela coisa, conforme você vai fazendo eventos, as pessoas vão chamando os amigos e você ganha um público mais constante, fazendo virar mais rápido também. Ainda não temos patrocinadores também.
Fora questões financeiras, acho que um outro grande desafio é a atração de gente nova. Acaba sendo um pouco parecido com a questão do dinheiro, porque de certa forma, sempre que você produz um evento, é a mesma coisa para todos os estilos; a questão é se manter relevante nas redes, conseguindo atrair um público maior.
Como o Techno não é um estilo que roda tanto (no RJ), então é difícil fazer com que as pessoas vão pela primeira vez. Depois da primeira vez, o público pega gosto e a festa cresce de forma orgânica.
Mas não basta só o pessoal ir ao evento, queremos que eles fiquem durante o role todo. Para conseguirmos isso também pensamos na ordem do line-up. Sempre buscamos criar uma história que faça sentido, pensando na experiência do público. Esse lado é um desafio para conseguirmos encaixar nosso som de maluco sem mandar a galera embora 03h da manhã.
RTH: COMO CADA MEMBRO AGREGOU PARA TRAZER ESSE PLANO PARA A VIDA REAL?
Neblina: O trabalho no Neblina, hoje, fica dividido entre produção de evento e produção de conteúdo e comunicação. A Myla que toca a parte de conteúdos e comunicação, mantendo a marca ativa mesmo no período entre eventos. Junto com ela, temos o Felipe, que é meio que um faz-tudo, desde artes até no dia da produção do evento, e o Marco, designer que ajuda com os posts. O Macedão é responsável pela parte de marketing, ele faz os anúncios digitais e tal.
O Lorio faz a parte de gestão financeira e gestão de projetos. Quando temos eventos, ele que cuida do planejamento pré evento e também dos fechamentos.
Hoje temos duas pessoas novas também. A Malu, que vai nos ajudar com a produção do evento por já ter experiência; e o Luca, que vai entrar para dar uma força no time da Myla.
RTH: QUAIS FORAM OS MOMENTOS MAIS MARCANTES DA VIDA DO COLETIVO?
Neblina: O dia do Chris Liberator com certeza está no Top 01. Quando ele passou a pista para o Lorio, ele estava nitidamente feliz. Foi um momento que estávamos aprendendo ainda e ele falou que estávamos no caminho certo, o que deu um gás.
Mas foi um momento meio tenso. A mãe dele havia falecido um dia antes do nosso evento. Até ficamos na dúvida se ele iria tocar depois disso; mas ele chegou aqui de braços abertos. Acho que ele se sentiu bem acolhido, vendo um pessoal bem novo no front dele curtindo muito o som.
Também foi um momento de virada de chave. Até então estávamos fazendo eventos menores, e aí trouxemos ele. Foi aí que estabelecemos o padrão de evento que queremos no Neblina.
RTH: METAS COM O COLETIVO (QUAIS ARTISTAS QUEREM TRAZER, QUAIS EVENTOS QUEREM PRODUZIR)?
Neblina: O maior sonho para o Neblina é, além de festa, sermos uma label, produzindo e lançando músicas, com reconhecimento mundial. Que sejamos uma gravadora que os produtores almejem lançar. E que isso gere um retorno para nossa comunidade local, fazendo com que as pessoas queiram vir nos nossos eventos.
O próximo grande passo é consolidar essa label. Queremos ser referência na inovação de música eletrônica.
RTH: COLETIVOS REFERÊNCIAS DENTRO DA CENA?
Neblina: A Possession (FRA) com certeza é uma grande referência para nós, de som. Tem muito em comum com o que queremos para o Neblina. Para eventos, no geral, usamos diversos eventos como referência, de diferentes estilos também.
Sempre tem alguma coisa de algum rolê que chama atenção e achamos interessante agregarmos dentro do nosso coletivo. Com isso, vamos criando aos poucos nossa identidade. Até porque é muito difícil replicar as referências gringas em um lugar que não tem a cultura de Techno forte.
Também é importante estar sempre olhando as festas que acontecem em volta, para você não se isolar completamente. É importante entender as tendências e o que o público espera no seu evento.
RTH: COMO VOCÊS PERCEBEM A CENA NACIONAL?
Neblina: A nível nacional, a cena é bem fragmentada, com uma interação muito baixa entre os estados. Nas cenas locais ainda tentam criar essa união, mas a impressão que fica é a de que até mesmo os coletivos menores acabam se fechando para artistas menores ainda. Isso acaba criando um ciclo em que, para ganhar espaço, o artista precisa criar seu próprio coletivo.
Mas vemos que tem muita gente querendo fazer acontecer, principalmente essa galera nova. O pessoal tá com gás mesmo, se dedicando em uma parte do seu dia para fazer a criação do conteúdo, fazer uma pesquisa. Estamos sempre em contato com gente não só daqui, mas também de outros estados e vemos que a chama está acesa. Queremos nos unir com essas pessoas que estão interessadas.
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